E sem nada de nos avisar meu marido anunciou sorridente: “Vamos nos mudar!”
As pessoas mudam por razões distintas. Mas, no geral, elas mudam se são obrigadas a mudar ou elas mudam quando não estão felizes no lugar onde moram. Tenho um amigo, músico e professor de espanhol, que deixou a Venezuela, seu país de nascimento, porque a vida no lugar onde vivia estava improdutiva e difícil. Ou seja, mudou para ter uma vida melhor, para manter a dignidade, para alcançar a felicidade.
Quanto a mim, eu não estava feliz na cidade onde eu vivia: poluição, rotina acelerada, violência urbana assombrosa. Queria mudar. Contudo, sem me dar conta, ofereci resistência. Talvez por receio/comodismo, simplesmente me pus a confabular sobre caixas, busca aborrecida por um imóvel e, ainda, a dificuldade que seria integrar-me novamente à escola, à feira, ao mercado, ao parque, à vizinhança… Anos atrás, minha mãe já tinha advertido: “para mudar é preciso desvencilhar-se do nosso apego ao passado.”
E o mesmo vale para o nosso cotidiano. Tudo o que existe está em fluxo constante. As mudanças acontecem conosco e também em nosso ambiente. Por isso, aderir às mudanças implica, na verdade, investir atenção no novo, encontrar esperança no desconhecido.
Eu mal me lembro do dia da mudança. E nos mudamos para uma cidade do interior onde a maioria dos moradores trabalha nos pastos, nas lavouras, e não hesita na hora de sujar as mãos de terra. Rosas e orquídeas decoram as casas fazendo-nos experimentar a efemeridade da vida. A beleza da aparição das abelhas é graciosa por si só.
Não existe nenhuma certeza nas promessas que fazemos a nós mesmos. Gostemos ou não, a vida é dinâmica e, por isso, mudar tanto envolve desapego como reivindica coragem. Coragem significa atuar com o coração, pondo-se em movimento com todo amor e disposição, independente do resultado.
E assim como a felicidade pode ser encontrada naquilo que não tem nada de extraordinário – flores que desabrocham no caminho, um singelo café com um amigo –, em vez de lamentar o que muda, uma mente flexível aceita a mudança, procura adaptar-se e encontrar beleza no novo. Não há nada a temer.
Cariños, Eugênia Pickina
Todo mundo gostaria de se mudar para um lugar mágico. Mas são poucos os que têm coragem de tentar. Rubem Alves