Da janela, enquanto escrevo, observo na esquina um ipê-rosa em floração admirável. Sua beleza e mansidão me alegram e tranquilizam.
Não faz muitos dias, reli a fábula de Jean Giono: “O homem que plantava árvores”. E mais uma vez me comovi com o trabalho solitário de Elzéard Bouffier, homem quieto, calado, e que foi capaz de semear sozinho uma verdadeira “floresta natural” em um pedaço de terra esquecido da velha Europa – carvalhos, bordos, faias, bétulas e salgueiros.
Precisamos de árvores. E no mundo inteiro. Aqui, no país, considerando a exuberância de nossa flora, caberão tipuana, jacarandá, angico-branco, mulungu, cambucá, aroeira-vermelha… Destemidos, podemos nos dispor a plantar árvores e para que percamos, de uma vez por todas, a mania de grandeza, pois somos simples, somos parte da natureza.
Demonstro a urgência das árvores pensando também nas crianças, elas que necessitam crescer chamando pelo nome as sibipirunas, os jequitibás, os pinheiros… Crescer amando as árvores. Porque no começo da vida, o assombro é natural, e qualquer criança se encanta curiosa com uma árvore velhíssima, com um buraco no tronco…
De outro lado, mesmo que na escola tenhamos aprendido que o ser humano é uma forma de vida mais evoluída do que as árvores, alinho-me ao pensamento de Rubem Alves, que aludia à possibilidade do contrário: “que as árvores sejam mais evoluídas que nós” e, por isso, nossa anseio insuperável por florestas, bosques, parques, jardins, uma amoreira plantada junto a uma nascente de águas.
A própria ciência alerta. Estamos, hoje no mundo, carentes de árvores. Além de nossos ofícios ordinários, podemos então assumir a condição de jardineiros que plantam árvores movidos, internamente, por um chamado corajoso e robusto…
Plantar árvores para os vivos e os que virão. E plantar justamente em razão de um futuro tempo povoado de mansas árvores, um pé de jasmim, um outro de romã. Certamente, por isso, lúcidos são os pais que plantam árvores para os filhos e, no decorrer da velhice profunda, para os netos.
Óbvio que há dias difíceis e escrever desanima. Mas penso então naqueles que amam mais os butiazeiros do que os muros e os artefatos de concreto. Alcanço, então, repreender o desânimo e novamente me inspiro, ciente de que nossa felicidade depende das árvores, do verdor e das abelhas que zunem e se reúnem para saudar mais uma vez a chegada da primavera.
Cariños, Eugenia Pickina
Amo aqueles que plantam árvores mesmo sabendo que nunca se sentarão em sua sombra.
Plantam árvores para dar sombras e frutos para aqueles que ainda não nasceram. Rubem Alves