A escuta é uma abordagem de humildade, em que colocamos o outro antes de nós mesmos. Os grandes narcisistas não escutam bem, e nos momentos em que estamos ansiosos, eufóricos ou tomados por muitas preocupações autocentradas, não somos capazes de escutar com qualidade. Embora, às vezes, possamos fingir escutar. Christophe André
Até eu completar oito anos, visitávamos muito a irmã mais velha da minha mãe. E, naquela casa simples, na cozinha, na hora do almoço, eu me sentia infeliz por notar que meu tio não ouvia (realmente) uma única palavra que minha tia dizia a ele durante a refeição, concordando mecanicamente com um gesto de cabeça ou um monossílabo quase sempre inaudível. Oh! como poderia fazê-lo, a atitude de uma falsa escuta?
Depois do almoço, minha tia trazia o café ruidosamente, atravessando a sala que mais parecia um país do tapete, meu pai em pé apoiado na porta e meu tio já sentado como um belo rei no único banco da varanda comprida, os vasos de gerânios que se abriam alegres nas épocas mais quentes.
Por força do hábito, eu costumava ficar sentada no degrau da escada, imaginando o que haveria nas outras casas vizinhas, tudo o que existia atrás do portãozinho de madeira que nos conduzia a uma descabelada aroeira-salsa na calçada, a rua ensolarada e vazia.
Minha tia surgia da cozinha trazendo biscoitos que derretiam na boca em um pote decorado e, nos pratinhos, pedacinhos de bolo; em seguida, ela se punha a contar uma história interessante ou apenas fazia menção a um fato cotidiano.
De frente para o meu tio, sistematicamente eu o espiava, meu olhar fixo no seu rosto largo e ossudo, procurando inutilmente entender por que ele não prestava atenção, agindo na realidade como alguém indiferente na tarde preguiçosa… Como podia manter-se tão insensível à esposa?
A escuta implica desfazer-se de parte de si para enxergar o outro, envolvendo, por isso, necessariamente uma qualidade de presença. Para manter meus ouvidos atentos preciso inclinar-me e estar permeável a quem me dirige a palavra, aberto às suas falas.
O temperamento introspectivo sempre me ajudou a escutar mais do que falar. Mesmo assim, vi, com o tempo e os desafios, como necessito ainda melhorar minha habilidade de escuta. Pois cometo erros, sobretudo diante de crianças e amigos, quando, no lugar de apenas ouvi-los, surpreendo-me querendo consolá-los ou ‘resolvê-los’, um sinal evidente de que muito há para crescer e melhorar no meu papel de ouvinte.
Quem vive, vai deixando de espantar-se? Porque as palavras de outra pessoa podem (e a qualquer instante) ensinar, emocionar e enriquecer, arrancando-nos de nossas próprias muralhas…
Volto ao abrigo da casa da minha tia, sinto o cheiro do café com leite, escuto tranquila a receita de torta que ela explica à minha mãe enquanto a tarde termina. E é confortável e seguro olhar para essas mulheres e perceber em ambas a mesma expressão receptiva de cuidado e atenção.
Cariños, Eugenia Pickina